Arte de Gil Mário

Em 26 de março de 1967 a sociedade feirense viu, orgulhosa, a abertura das portas do primeiro museu da cidade, sendo ele também o primeiro a ser criado no interior do Estado, longe da capital. E aquele não foi apenas um evento local.

De fato, a inauguração do então chamado Museu Regional de Feira de Santana, além da presença da fina flor da intelectualidade feirense, contou também com a presença de artistas de renome nacional, como o pintor Di Cavalcanti, autor de uma das obras do novo museu. Havia também autoridades locais e estaduais, além do embaixador inglês no Brasil, Assis Chateaubriand, grande empresário das comunicações da época, que doou boa parte do acervo da instituição. O MRA nasceu a partir do projeto de interiorização das artes, criado por Chateaubriand, que visava a abertura de museus fora das grandes capitais do país.

O evento ganhou as páginas dos jornais e revistas de circulação nacional e, para a sociedade feirense, significava um passo importante para o alinhamento da cidade e seu universo cultural com a vanguarda das artes e das experiências do viver o espaço urbano segundo os parâmetros encontrados nos centros mais desenvolvidos do Estado, quiçá do país.

Mas hoje, 50 anos após o seu nascimento, qual o significado do Museu Regional de Arte (MRA)? Seguramente, é bem outro o cenário atual. Ao completar meio século de existência, o MRA, felizmente, já não figura solitário como instituição museológica no interior do Estado e, em particular, em Feira de Santana.

Nesse sentido, é impossível ignorar o papel pioneiro do museu feirense, não por mostrar-se um exemplo da viabilidade de projetos dessa natureza, mas por ser, em Feira, um espaço que de fato estimulou o desenvolvimento das artes visuais, realizando mostras e salões de arte (agora resgatados) e criando uma ambiência estimulante para o surgimento e afirmação de alguns dos principais nomes das artes plásticas, como Juraci Dórea, Graça Ramos, Cesar Romero e Gil Mário Menezes, artistas que, aliás, agracia-nos com a elaboração da identidade visual das comemorações pelo cinquentenário.

Os frutos desse papel vivificador inicial ainda são colhidos hoje. A cidade conta, na atualidade, com um cenário artístico consolidado e em permanente renovação, um legado direto do papel desempenhado pelo Museu Regional de Arte em sua trajetória. E se essa é a realidade feirense, o MRA já não tem mais a oferecer à comunidade? É justo o contrário. Numa sociedade cada vez mais plural e dinâmica, o MRA tem diante de si renovados os desafios de socializar o acesso à arte e o seu reconhecimento, nas suas mais diversas formas de expressão e linguagem. Fazer da arte um elemento presente, cada vez mais e cada vez mais cedo, na vida de todos é uma das principais funções do MRA. Essa é uma meta ambiciosa, sem dúvida, mas se a história do MRA tem algo a nos dizer, com tudo o que nos foi proporcionado nos últimos 50 anos, é que não se acomodarão seus dirigentes. Consequentemente, permanecerá sendo uma referência para a cultura de Feira de Santana e de sua região e um motivo de orgulho para a Bahia.

Texto de Aldo José Morais Silva, historiador do CUCA/UEFS